Imagem - Lauri Blank
A
REDE
Uma noite, agosto,
em rede tecida
pela lua,
reencontrei
você.
Meu olhar fez-se lunar
que lhe
redescobria ,
enquanto seus
beijos delicados
percorriam
meu corpo,
explorando
o campo,
seu mapa,
que em mim se
desenhava.
Há muito
lhe conhecia,
e em mim já
sonhava
um tempo esquecido,
em nós ,
adormecido.
O que
acontece
entre
estrelas e mares,
quando o
universo inteiro responde
a um pedido
dirigido ao céu,
vindo de um
passado?
O que
acontece com o céu,
quando uma pergunta
encontra ,num
ato, a resposta
e a resposta
se faz poema?
Pois
enquanto você estendia
sua rede, tão
suavemente,
capturando-me
como borboleta,
a vida
resgatava um momento
longínquo
de um passado
e, entrelaçando-nos, o refazia.
E enquanto
eu passeava
meus dedos
em sua pele macia,
amenizando e intensificando,
a sede de
lhe ver real,
O tempo,
satisfeito, sorria.
(Éramos nós
nos reencontrando,
e a história
recompondo,
o que nos
devia).
Naquela
noite.
em rede,
fui sua.
sua suave
ave sob a
lua.
Não longe, o mar bramia,
agitava-se,
enquanto a
rede
ia entrelaçando
em nossos
pés,
o presente vivido,
um futuro
sonhado
e as
estrelas que ali caiam,
mensageiras
do passado,
vinham
e viam.
Susana Meirelles
Imagem - Lauri Blank
FARÓIS
Meus olhos ali viviam.
Viam teus olhos amarelos
como dois faróis de luz clara, sinalizando tudo.
Lágrimas transcendiam e os inundavam.
Não, não era pela dor da perda,
mas pela emoção do encontro.
Estar no mundo sem teus faróis,
é ser órfão de pai e mãe
em primeiro dia de aula:
ou jogo pedra na vidraça ou me conformo.
Conformo-me à beleza do mundo,
tal como a vejo
sem teus olhos.
São meus faróis de luz amarela,
e eu à deriva, barco.
Embarco nesse olhar para ir além dele,
perceber que por trás dele há outra luz
tal como a minha.
E ainda que precise dos seus olhos por empréstimo,
é sempre para dentro de mim
que os sinais se confirmam.
Vai! Sinaliza, ó farol,
mar adentro,
mar avante,
adiante.
Alcança algo imenso desse mar.
Misterioso, caudaloso,
silencioso mar,
onde me encontro.
Amando-te em ti
e afastando-te de mim.
Amando-me em ti
e afastando-me de mim.
Amando-te em mim
e Afastando-me de ti
Susana Meirelles
ENTRELACES
Colecionei toda poesia,
guardando-a para você,
entrelaçando palavras
como com as flores
se faz.
Poesia em fios,
São entrelaces,
Como dos pães , as cestas
Como da cama, as mantas
Como da cabeceira, o relógio
Registrando o tempo nosso.
Nosso tempo em varandas
e em salas de estar,
meus olhos, salas de espera
e todas aquelas janelas,
onde lhe adivinho chegar.
Sua presença basta
para que se inscreva
poesia, em mim,
Pois, se você chega ,
antes, me chegam seus passos,
e a sua respiração apressada
é entrelaçada à minha.
Conheço, em mim, seus rastros,
quando sua falta se desfaz,
caminhos e tanto me diz.
Tecelagem
de fios.
de mãos
e poéticos tremores
(são quase temores),
que se entrelaçam,
nesse amor imenso,
que é meu
que é seu
que nos enlaça,
no poema de nosso laço.
Susana Meirelles
Como é bom ter uma amiga escritora e poetisa. Que lindo,Su! Fiquei emocionada!! bjos
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