Imagem : Lauri Blank
Vidente Amor
Eu bem conheço a força que tens
pois, em mim, já grita.
Mas disfarço e recorro ao vinho
esperando que em ti a verdade se revele.
Tua presença basta,
para que se calem em mim
todas as belas palavras
que juro, sei dizer.
Meio tola, apenas repito, sem disfarces,
o mesmo sim a todos os teus convites.
Meu amor é tão profundo e tão claro
mas de tal poesia, pouco conheces.
Mal conheces teu futuro que, todavia, faço-me vidente:
"Viverás comigo
E caminharemos velhinhos, mãos dadas."
Nesta noite, ao teu lado, me calo.
E já nem sei se da verdade ou do vinho me embriago.
Comemoro em silêncio a tua chegada
em doses imponderáveis
de ilusão
e daquelas mentiras tão desejadas,
que transformam em
que transformam em
infinito e eterno,
um passageiro,
silencioso,
um passageiro,
silencioso,
mas tão evidente
amor.
Susana Meirelles
Uma Casa nas Nuvens
Queria descobrir a
paisagem.
mais recôndita da sua alma
e com que forma,
a sua essência lhe modelou:
Com que barro? Com que cor?
Queria ter escutado
O som do seu sorriso,
sua voz declamando
a poesia que sai do bolso,
e tatuada na pele, revela
uma promessa, história,
longa memória,
pacto que você fez
não sem dor.
Queria ter pintado meus lábios,
mostrar que minhas lágrimas furtam cores
e que há verde no fundo do meu
olhar.
Mostrar o azul do mar, branco do sorriso
todas as minhas cores
(sou como arco íris),
eu ia lhe ensinar a misturar.
Queria beijar as
pontas luminosas
dos seus dedos,
por onde salpicam estrelas,
e caem,
cumprindo desejos
cumprindo desejos
e iluminando seu papel.
Queria ouvir sua
verdade,
como quem escuta música.
E as palavras que escrevia
saber se , de perto ,
tão lindas!
"São mesmo suas?"
Queria construir um lugar
para com você estar.
Uma casa sob arvore,
ou nas nuvens,
queria só puxar a
cadeira,
e lhe oferecer
uma xícara de chá.
Queria sair da rede,
fazer entrelaces de nossas mãos,
e em rede tecida pelo
olhar,
ir, pouco a pouco,
vendo, lhe vendo,
nos vendo,
aos poucos,
bem devagar.
Queria sentir a graça
do seu riso,
que certamente iria
gostar do meu.
Quis brincar com você
rindo das nossas diferenças ,
e do meu sotaque,
tão diferente do seu.
Queria sim, embriagar-me.
Queria mesmo era ver transbordar a taça,
Decidida a pagar o preço,
não ia fugir
não ia me esconder.
não ia me esconder.
(Eu queria mesmo, e muito,
era tirar uma foto com você).
Queria usar o vestido
novo
sem sandálias, pisar na areia.
E na praia,
fazer uma surpresa:
eu ia pedir ao mar
que desse um beijo em você.
Queria lhe dar uma flor
minha essência, perfume,
meu calor.
Quis, em pétalas,
meio trêmula,
oferecer,
tudo o que sou.
Queria lhe convidar para um passeio
pela cidade,
e andar com você na minha história.
Gravar bem minhas memórias,
eu juro
que ia escrever um livro
e ler,
só para você.
Eu só queria despedir-me satisfeita
por ter vivido.
Os riscos, com você, ter corrido
(E dos riscos não ter corrido).
Queria mesmo era ter tido a chance,
de,
se quisesse,
se quisesse,
desistir de você.
Susana Meirelles
Arte: Lauri Blank
Andorinha do mar
Aquela imensa alegria
alada,
foi adiada,
fazendo pouso
em outras paragens.
Sumiu,
perdi de vista
no imenso horizonte
de nossas
conquistas.
Esperei para ver seu riso
aberto, ouvir seus versos,
devagarzinho,
e aquelas estrelas
sem disfarces,
nas faces
nas faces
A roupa nova
aguarda no guarda roupa,
junto com essa alma minha
inteira e nua,
vagando incerta,
na certeza de que era sua.
Quase vejo por aqui
suas mãos desenhando
uma vida nova,
Que tanto quis,
Tecida com paciência
fio a fio.
Eu dentro de você
você, amado,
dentro de mim.
Sem as asas dessa
alegria
triste sou, adio o amor
E digo um longo adeus
ao dia que se fez
para ser seu
E para ser meu.
Um mundo inacabado
foi construído, às pressas,
no seu lugar.
O dia a dia só adia
minha ida,
ou sua vinda
e o começo
de nossas vidas.
Sofro de rotinas,
de sinais vermelhos
e travessias.
Sofro com gastas retinas
ardências nos olhos,
cansados,
do mesmo engano
Numéricas
são a contagem das horas,
com as contas por pagar
recibos a recolher.
Numa contabilidade curta e gasta.
subtraindo você,
traindo meu desejo
de somar-me a você.
Sozinha, vou até o mar
Sinto o vento, muito azul
abrindo meus olhos.
Crio asas
( por pura ternura)
torno-me andorinha do mar.
torno-me andorinha do mar.
E, no mesmo instante
de aqui,
aí ,
no ninho do seu peito,
estou.
estou.
No seu coração,
eu sei.
Tenho o meu lugar.
eu sei.
Tenho o meu lugar.
Susana Meirelles
Imagem: Lauri Blank
SOBRAS
Não preciso de ti
para que me completes.
Nada do que tens,
a mim, falta.
Não busco a ti
por qualquer tesouro
ou dor que tenhas oculta.
Não. Não busco em ti .
o manancial de todo amor
infinito que seja,
ou breve como o tempo.
Nada busco em ti
que sirva
por uma ilusão qualquer,
para compor as paisagens
da minha falta
Não: é bem maior,
posto que bem conheço
expansões
tão belas
quanto aquelas
que se dão
com as estrelas.
Tenho um universo
a descobrir
tão misterioso,
quanto o teu.
Tal como você,
sou alvo de olhares.
Amorosos,
devoradores,
ternos olhares.
Tal como você,
sou alvo de olhares.
Amorosos,
devoradores,
ternos olhares.
Sou dona de mim,
mas este corpo,
estreito,
não consegue guardar
toda a alma.
Por isso, vivo em busca ,
de um corpo para abrigar-me,
além de mim.
Além do que já possuo,
enquanto expando-me,
lentamente.
Vou além do que já sei.
Vou além do que não acredito,
mas conheço.
Vou além do que ainda não sei.
mas aceito de mim.
expando-me sim,
e nunca, em mim,
caibo inteira.
Por isso, engana-te,
pois não me falta alma.
Não me falta nada.
Não, nada
(nem mesmo a falta)
me falta.
Sou muito maior do que mim
Preciso, de fato,
é emprestar –me a t.i
Pois nada me vale
toda expansão,
toda beleza,
toda alma:
Sem você,
Sobro-me
Susana Meirelles
Arte: Lauri Blank
TAÇA DE ALEGRIA
Minha alma a ti se dirige,
convida
E quando menos espero,
canta,brinca
e chora em mim,
sem que eu saiba.
Revela-se,
e eu não a domino.
Deixo-a ir , cavalgando livre
(Diferente de mim, ela é selvagem).
Torno-me taça que transborda em paixão,
ainda quando disfarço e minto.
Sim, minto,
para compensar tudo aquilo
que, à revelia,
a ti revelo.
"Vim ver-te, aqui estou"
É só o que falo.
E se nem sei se escutas,
permito que minha alma
fale em mim:
"Bebe da minha taça,
Por tua presença, sou pura alegria.
Por ti. minhas mãos tremem
e o coração rubro, acelera."
Diante de ti, transbordo.
Minha alma agora está em tudo:
Na rua, no bar, na festa, na foto.
Na música e no silêncio,
que em mim se faz.
Minha alma está aqui,
sob este vestido florido,
cor de vinho,
por ti colorido.
Sou tão tua,
quanto não sabes
E essa inocência tão bela
é só o que de ti transborda
quando olho teus escuros olhos
e desbordo.
É a inocência
do quanto és
que te faz beber o vinho,
e de mim, despedir-se.
Enquanto eu, só,
inteira sou,
e sorvo-te ,
numa taça de alegria.
que ignoras.
Susana Meirelles
Su, lindo de viver! A alma e as nossas faltas transcrita em palavras! Na verdade o que nos fata é espaço, pois somos gigantes demais! S2. Beijos no coração!
ResponderExcluirÉ isso aí Lai! A beleza do amor não está na carência mas no excesso..bjo
ExcluirO poema é uma canção noturna, interminável e bela. Mas o fim, esse fim é gigante: sem você sobro-me...
ResponderExcluirBeijos,
Obrigada Taninha!Fico muito contente que tenha gostado. bjo
Excluirlindo amiga!
ResponderExcluirEleuza
Sussu querida, esse doce,belo e profundo poema desbanca Freud, Lacan! Nada de falta, simplesmente o excesso de gente plena de si, transbordante...que pode, assim esbanjar AMOR! Lindo, lindo,lindo! Amei!
ResponderExcluirLindo Sú, singelo e verdadeiro!!
ResponderExcluirRosana Rebouças