Naquelas tardes já ensolaradas, ela
me dava o seu calor na sua presença maternal e acolhedora. Eu devia ter sete anos e amava aquelas longas
tardes ao seu lado. Tardes que se iniciavam com a chegada da escola, depois do
banho e do almoço. Ela costurava, tricotava, enquanto eu fazia meus deveres
escolares. Depois das tarefas, eu passava a entrar no mundo dela, como se
investigasse o meu futuro e ao mesmo tempo desejasse guardar para sempre
aqueles momentos, como um presente. Eu folheava seus livros de receitas, os
moldes das roupas que costurava, suas linhas, seus agulhas, catava alfinetes
que caiam ..e ficava ali sentada, investigando de onde vinham as suas mágicas. Aos meus olhos, minha mãe era
mágica. Ela transformava ingredientes diferentes em pratos deliciosos; tecidos
e linhas em lindos vestidos ricamente bordados e nossos rostos e sorrisos em
desenhos a lápis em preto e branco. Ela criava histórias e transformava minha
vida, trazendo sempre um pouco de poesia e brincadeiras para o cotidiano.
Foi ela quem me ensinou a arte
das transformações e a beleza da criatividade. Ela me criou, criando. Ela transformava meus dias em melodias.. todos os dias eram
diferentes, todas as tardes tinham sua graça. Os dias não eram iguais, já que
ela sabia , como ninguém, colocar neles uma pitada de graça, costurando-os com
fantasia, desenhando-os com alegria..
Não sei se sabia o que fazia, mas ela me ensinava
a ver beleza e encanto no que me cercava. Ao seu lado tudo tinha uma história,
um personagem, um ensinamento.
Numa dessas tardes, lembro-me, ela
fazia suspiros: pedia que eu pegasse ovos na geladeira. Separava a gema, batia
as claras em neve e ia acrescentando
açúcar, um pouquinho de limão ia batendo enquanto aquela espuma como neve e
doce como açúcar – a “clara em neve” ia surgindo de suas mágicas mãos. Depois ela colocava as gotinhas daquela
neve na assadeira, levava ao forno e eu esperava ansiosa pelo resultado.
- Mãe, Como é o nome desse doce?
- Suspiros, ela respondeu
- E por que suspiros se chamam suspiros?
Ela não hesitou:
- Porque é tão doce! Quando a
gente coloca na boca fica tão feliz que sente vontade de suspirar...suspirar bem fundo..de alegria!
- Ah...! suspirei eu, feliz...
Susana Meirelles