segunda-feira, 4 de novembro de 2013

O Despetalado






Desde que me fiz teu,
passei a habitar teus azuis
e, em ti submerso,
fiz-me navegante
do teu mundo.

Vi, naufragados,
marinheiros viajantes,
teus amantes.
E, mais fundo, afogados,
dragões, ninfas  e sereias
habitantes teus
que mal conheces.

Deitei em  tuas espumas, na superfície,
tua pele
onde preferias estar.
Plácida, me acolheste em teu seio.
Ávido, explorei ilhas,
teus silêncios
e os peixes que traziam vida em abundância.

Deste ao meu corpo contornos mais  belos
e formas imprevistas.
Deste aos meus dias
sentido
e sentimentos ao coração 
envelhecido.
Deste aos meus cabelos sua cor viva
E às minhas veias,
tua vida.

Insensato, sacrifiquei caminhos, lugares,
atalhos mais fáceis ,
mais simples,
corações mais ternos, 
mais belos,
trocando tudo pela poesia
que os teus azuis me evocavam.

Desejei caminhar ao teu lado,
de sol a sol
e, à noite, dividir astros
-os reflexos deles em ti-
navegando sem farol,
quase afogando-me,
de cabeça, 
mergulhando,
sem razão,
 entregando-me.

Aqui, eu, poema em flor,
Vim oferecer-te.
Mas  só, fui
num frio marítimo
despertado.

Desesperado,
 bato à tua porta
chamo o teu nome.
Em eco,
o silêncio.
E a imensa solidão
das ilhas,
ao longe

Há uma paz silenciosa
O mar, tão plácido,
O azul , tão profundo.
Mas meu coração
está em pedaços.

Nunca estiveste aqui,
nunca estiveste em nada,
só no meu
(mar imenso, mar sem fim)
amor de  poeta.

Nada mais é tão fundo
Nada disso foi meu mundo.
Nesse mar  profundo,
ao longe, nadas.

Fui  despetalado.
E meus  versos,
desperdiçados.



Susana Meirelles







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