Quando contado
pode tornar-se muito lento ou veloz
devassando sonhos,
promessas , certezas
e afastando-nos de nós.
Quando tem sentido
explode dentro do peito,
revelando quanto mistério há
no eterno de um instante
e na finitude.
Pouco sentido,
passa de minuto a minuto,
diluindo-se nas horas,
com a dor da transitoriedade
e do efêmero.
Livre, passa como brisa , como música,
num voo ,entrecortando o ar,
deixando no céu a marca
do inesquecível.
Vivido nos seus compassos e descompassos,
traz o ritmo do coração,
das estações, dos ciclos
e das eternas
transformações.
Transcendendo os dias e as horas do crepúsculo,
vivemos a sua perene aurora:
é nascente,
renasce,
revigora.
Pintado nos olhos em negras cores,
é desenhado nos nossos rostos,
demarcado nos nossos passos,
passo a passo.
Passa sem alegria,
passa como um lamento.
Temido e cronológico,
sentimos com dor a sua passagem,
conduzindo-nos à sua perda
e a todas as ausências.
Impregnado em brilho no olhar,
prolonga a vida, remoça.
Se desfaz, refaz.
Nele confiamos
pois transforma sonhos,
fazendo-se presente
em belos e inesquecíveis
voos de borboletas,
dentro de nós.
Com o Tempo,
o velho pode ser novo.
O novo , envelhecer.
O começo pode ser o fim.
O fim, infinito.
Com o Tempo,
o velho pode ser novo.
O novo , envelhecer.
O começo pode ser o fim.
O fim, infinito.
II
O tempo é um,
mas há muito tempo,
dois são os deuses a governá-lo
E duas são formas de contá-lo.
Kronos , o deus devorador dos homens
governa o Universo,
nossos relógios e calendários.
Kayrós ,o elfo com asas nos pés,
É leve como brisa suave.
Surge em incalculáveis
extraordinários e inesquecíveis
instantes.
Kronos conta e reconta.
É o tempo que passa,
tempo que se perde,
tempo que se ganha.
Kayrós vibra e sonha
É o tempo do momento presente.
tempo do eterno instante.
Possui a leveza dos anjos
e das crianças.
Para Kronos há passado,
Há presente, há futuro.
Para Kayrós , apenas
- e isso basta-
a eterna leveza do agora.
Um dia, Kronos e Kayrós
hão de cessar a luta,
e dar-se-ão as mãos.
E o Amor com o poder de desgovernar
a temível contagem de Kronos,
Há de fazer
(como sempre faz)
o tempo parar.
retroceder,
avançar
em um único instante.
E então, entre suas mãos,
apenas a vida
inteira , profunda,
deslizando-nos,
diluindo-nos.
Entre a finitude de Kronos
e o infinito de Kayrós,
o tempo há de ser,
- para sempre-
nosso eterno presente.
Susana Meirelles
Resposta ao desafio poético em Imagens TaniaContreiras Arteterapeuta
Poema belíssimo, cheio de esperança, promessa de encontro entre o tempo e o tempo. Parabéns, Susana!!! Adorei.
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