domingo, 17 de novembro de 2013

Kronos e Kayrós









Quando contado
pode tornar-se muito lento ou veloz
devassando sonhos,
promessas , certezas
e afastando-nos de nós.

Quando tem sentido
explode dentro do peito,
revelando quanto mistério há
no eterno de um instante
e na finitude.

Pouco sentido, 
passa de minuto a minuto,
diluindo-se nas horas, 
com a dor da transitoriedade 
e do efêmero.

Livre, passa como brisa , como música, 
num voo ,entrecortando o ar,
deixando no céu a marca
do inesquecível.

Vivido nos seus compassos e descompassos, 
traz o ritmo do coração,
das estações, dos ciclos
e das  eternas  
transformações. 

Transcendendo os dias e as horas do crepúsculo,
vivemos a sua perene  aurora:
é nascente, 
renasce,
revigora.

Pintado nos olhos em negras cores,
é  desenhado nos nossos rostos,
demarcado nos nossos passos,
passo a passo.
Passa sem alegria, 
passa como um lamento.

Temido e cronológico, 
sentimos com dor a sua passagem,
 conduzindo-nos à sua perda 
e a todas as ausências.

Impregnado em brilho no olhar, 
prolonga a vida, remoça.
Se desfaz, refaz.
Nele confiamos
pois transforma sonhos,
fazendo-se  presente 
em belos e inesquecíveis 
voos de borboletas,
dentro de nós.


Com o Tempo,
o velho pode ser novo.
O novo , envelhecer.
O começo pode ser o fim.
O fim, infinito.




II



O tempo é um, 
mas há muito tempo,
dois são os deuses a governá-lo
E duas são  formas de contá-lo.

Kronos , o deus devorador dos homens
governa o Universo,
nossos relógios e calendários.
Kayrós ,o elfo com asas nos pés,
É leve como brisa suave.
Surge em incalculáveis 
extraordinários e inesquecíveis
instantes.

Kronos conta e reconta.
É o tempo  que passa, 
tempo que se perde,
tempo que se ganha.

Kayrós vibra e sonha
É o tempo do momento presente.
tempo do eterno  instante.
Possui a leveza dos anjos
e das crianças.

Para Kronos há passado,
Há presente, há futuro.
Para Kayrós , apenas
- e isso basta- 
a eterna leveza  do agora.

Um dia, Kronos e Kayrós 
hão de cessar a luta,
e  dar-se-ão as mãos.
E o Amor com o poder de desgovernar  
a temível contagem de Kronos,
Há de fazer 
(como sempre faz) 
o tempo parar.
retroceder, 
avançar
em um único instante.

E então, entre suas mãos,
apenas a vida
inteira , profunda,
deslizando-nos,
diluindo-nos.
Entre a finitude de Kronos
e o infinito de Kayrós,
o tempo há de ser, 
- para sempre- 
nosso  eterno presente.



Susana Meirelles


Resposta ao desafio poético em Imagens TaniaContreiras Arteterapeuta

Um comentário:

  1. Poema belíssimo, cheio de esperança, promessa de encontro entre o tempo e o tempo. Parabéns, Susana!!! Adorei.

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