domingo, 3 de junho de 2012

Cordeirinhos

Acreditamos tanto na felicidade que nossas experiências de vida nos trazem, que elegemos algumas, fazemos uma lista e nos convencemos de que só quando as alcançarmos estaremos bem. Porém, não percebemos ser esta, uma forma de adiarmos indefinidamente a vida que desejamos.
Há ainda outra lista sobre a qual não ousamos falar, nem olhar, pois é composta pelas experiências que tememos enfrentar. Diante delas, cercamo-nos de muitos cuidados para evitá-las e nos mostramos precavidos, quando , na  verdade, sofremos pelo medo. Quando somos prudentes, evitamos um risco real, todavia, no medo, o risco é inspirado pelos nossos fantasmas.
Na vida, há experiências que podemos evitar, enquanto outras parecem ser muito maiores do que nós e do que a nossa pequena vontade de sermos felizes apenas como idealizamos. Nesse nosso mundo, onde a felicidade parece garantida por cartões de acesso a facilidades, esquecemos o quanto é exatamente por meio da superação que podemos encontrar o que tanto buscamos. Por isso, nosso cartão de acesso à felicidade, às vezes, é a dor.
Somos confusos em relação ao poder que temos. Acreditamos, muitas vezes, que podemos mudar bem pouco do que estamos vivendo, quando, na verdade podemos mudar muito; outras vezes, sofremos por interpretarmos como impotência nossa, o que se trata de uma impossibilidade real.
O tempo nos mostra que há momentos em nosso percurso, em que a única coisa a ser feita é nos conformarmos como cordeirinhos mansos, confiando que a vida, como um bom pastor, nos conduzirá a um lugar seguro depois que caminharmos por alguns vales. 
A renovação nos alcança como o outono surpreende o verão. E ela pode vir disfarçada na doença, na perda, no luto, na dor. Cabe-nos o trabalho de transformação: o de nos conhecermos através daquela experiência; Cada vivência, se bem assimilada, nos prepara para a próxima. No entanto, ao fugirmos da mudança necessária, a experiência seguinte pode ser mais difícil de ser vivida.
Precisamos compreender que felicidade não é estar alegre a todo o momento como nos fizeram crer. Talvez seja a conquista da serenidade, seja qual for a experiência pela qual estejamos passando. Mas, infelizmente, não é sempre que nossa vontade míope alcança a beleza da primavera além do esquadrinhamento da janela por onde vemos o mundo.
A vida é sempre maior do que o que acreditamos e desfila por caminhos que a nossa previsibilidade desconhece. Tudo aquilo que dela ainda não  assimilamos, pode ressurgir com mais força, para nos lembrar dos compromissos com a mudança que nós tanto desejamos.
Precisamos aprender a confiar na vida e em seus caminhos. E, Mesmo que andemos pelos vales da sombra e da morte, não temeremos mal algum, pois teremos confiança nos recursos que a vida oferece sabendo que ali pode estar a oportunidade tão almejada.
Portanto, guarde a sua lista de sonhos e acredite nela, mas encare também os seus medos. E quando uma experiência mais difícil surgir, acredite que ela pode ser o vale que lhe conduzirá àquela montanha linda e azul, logo ali... adiante.




Susana Meirelles



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