sábado, 22 de abril de 2017




O DEDO VERDE OU A ARTE DE DESCOBRIR O MELHOR DE CADA UM


            Tistu é  o personagem de um lindo conto de Maurice Druon: O menino do dedo verde. Ele possuía o dom de fazer brotar flores onde tocasse o seu polegar, fazendo desabrochar as sementes que existiam por toda a parte. Embelezando o que era feio e triste, trazendo alegria e evitando guerras, Tistu viveu o seu dom até conhecer a morte do seu amigo e professor Bigode e construir com seu polegar , uma linda escada florida que o conduziu ao céu.
 Os jardins de Tistu eram desordenados. pois as sementes que brotam da terra são trazidas pelo vento que sempre as deixa livres. Nada desabrocha sem liberdade e creio que é a alegria da liberdade o que torna belos   todos os jardins: os de Tistu e os nossos. Os jardins podados não me comovem. São jardins tristes. A liberdade embeleza todos  os jardins, inclusive aqueles onde cultivamos nossos relacionamentos.           
            Hoje, no meu jardim de todos os dias,eu redescobri o cheiro da grama molhada depois da chuva. As folhas secas de outono , abrigando poças d´agua me pareciam lagos , onde quase via a minha minha imagem e a luz que vinha do céu. Vi a variedade de espécies: amendoeiras, palmeiras, algarobas , eucapliptos compartilhavam o mesmo chão. Flores pequeninas amarelas, azuis e brancas enfeitavam o caminho e, numa desorganizada e viva alegria. comemoravam a mistura, o respeito ao outro. E como se eu notasse pela primeira vez o verde dentro do verde, o verde além do verde, o verde no meu polegar , eu descobria o  novo em mim.  
            Como já vivi jardins , já vivi pessoas. Gosto de pessoas como quem cultiva flores. As pessoas sempre exerceram sobre mim um grande fascínio: o da descoberta de suas sementes e do lugar delas em minha vida.
            Como o menino do dedo verde sempre acreditei que podemos ajudar as pessoas a desenvolverem o melhor de si mesmas com liberdade. Creio que um dos maiores problemas nos nossos relacionamentos é o não reconhecimento do lugar do outro em nossas vidas e a tentativa de adaptar pessoas a se enquadrarem em nossas expectativas. Já ouvi muito sofrimento por pessoas que desejam um marido naquele que quer apenas ser um amor passageiro. Ou por esperar uma mãe em quem deseja ser uma mulher. Ou um filho em quem é marido. Ou um namorado no grande amigo. Quanto sofrimento quando não reconhecemos as sementes que o outro traz e o melhor que podem nos dar.
            É uma arte bela e desafiante: descobrir o lugar de cada um em nossa vida.,esperar o melhor que cada um poderá oferecer e não criar expectativas irreais, podando as pessoas para adapta-las ao que desejamos.
            Quanta liberdade vivemos quando aceitamos as pessoas no que são e com elas convivemos com alegria, compartilhando espaços e colorindo jardins. Dessa forma, como Tistu,  evitamos guerras, dores e enfeitamos com o colorido o que é escuro e triste ou mesmo subimos ao ceu experimentando a leveza de ir além de limites.
            AS vezes pensamos que é mais fácil usar a tesoura para podar, adaptar, fazer caber o outro num padrão ou ajustar as pessoas a uma expectativa, como se não acreditássemos que o vento pode trazer novas sementes e cores novas para a vida, renovando-a sempre.

Que nosso dedo verde, ajude a embelezar o mundo, lembrando que o vento que carrega as sementes e as espalha desordenadas, nos ajuda a descobrir uma beleza muito maior, quer é a de ser livre e descobrir o lugar destinado a cada um em nosso coração. E creia : é sempre muito melhor e mais colorido do que as nossas rígidas expectativas.

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