terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Colcha de Retalhos

 Vivendo retalhinhos de tempo a que chamamos dias, aqui chegamos. O tempo,tão imprevisível, às vezes dorme preguiçoso nos cantos de nossas repetições. Outras vezes, desperta apressado, para a renovação.
 Há tempos que queremos, com muita pressa, darmo-nos tempo. Urgentemente, queremos refazer a vida. Contamos a todos nossos sonhos, como se eles não formassem dentro de nós, a trama do desejo, tecido com que fomos feitos. E com o novelo constituído de desejos, esperanças e temores nas mãos é que queremos a tudo refazer, amarrar, às vezes remendar. Aquilo que não realizamos emerge de dentro do baú da saudade, lá do fundo de nossos apelos. E quase esquecemos os pedacinhos miúdos das pequenas vontades, que nos trazem alegria e são as construtoras do que virá.        
Desejamos sempre, e, desejamos nas coisas o que elas representam, mas nem sempre percebemos que seguimos projetando felicidade no que está fora de nós. Acreditamos que estaremos bem se tivermos aquilo que elegemos que nos trará alegria, sem refletirmos sobre o que de fato desejamos, naquilo que tanto queremos. Afinal, queremos roupa nova ou nos renovarmos? Novas cortinas ou abrir as janelas do nosso limitado mundo? Perder cinco quilos ou o modelo que seguimos?
E , se o que falta nos move ao longo dos fios do tempo, desejo alcançado deixa de ser falta, e assim, prosseguimos a vida, criando novos desejos costurados nas nossas vontades.
No entanto, viver talvez seja tecer distraidamente uma colcha de retalhos: pegar pedacinhos de experiências de passado, recortarmos e, uma vez frente a frente com elas, decidirmos o que fazer. Podemos dar novo sentido, nova cor, novo significado. Podemos transformá-las e atualizá-las. Podemos sim. Podemos aceitar do jeito que são, buscando uma combinação, uma forma. Podemos também constatar, que aquele recorte já não nos serve e descartá-lo, colocando um novo tecido no lugar e depois envolvermos tudo isso nos firmes fios de maturidade e sabedoria.
E nessa costura  - feita a mão - cabe a nós o destino que daremos a cada experiência, percebendo a beleza que cada uma possui; o encadeamento a que faz parte; o encantamento de todas as cores e a combinação das formas, mesmo aquelas que, separadas, pareciam desconexas.
Pode ser no Ano Novo ou no aniversário. Ou pode ser simplesmente no dia em que, ao terminarmos um ciclo, despertamos para a necessidade da mudança.Todo inicio de tempo pode acontecer em qualquer ponto da vida, a partir de qualquer pequeno retalho, desde que saibamos costurar: lembrar dos restinhos de passado, usar firmes fios do presente e lembrar dos espaços vazios do que ainda virá e  que podem ser preenchidos com novos talentos, novas habilidade e atitudes renovadas que precisamos apenas descobrir. Pois o futuro é um pedacinho de tempo adormecido, dentro de nós.
E, como as costureiras, podemos parar de tempos em tempos, para avaliar  a beleza do que já foi feito; mostrar a quem deseje conhecer; olhar com cuidado o que pode ser refeito,  aproveitando tudo o que temos e somos, com amor e sabedoria.
É preciso serenidade para tecer a vida, no silencio das nossas vivências, na luminosidade do que somos. E nos momentos de cansaço é que perceberemos o quanto nos serve essa bela e colorida colcha de retalhos.
Retalhos das nossas verdadeiras conquistas onde placidamente nos deitamos ou  nos abrigamos no seu calor,  acolhidos em nossa dor ou na nossa alegria.

Feliz Ano Novo!


Susana Meirelles




10 comentários:

  1. Su, no costurar da minha colcha dia a dia aprendo a olhar, refazer, acrescentar: momentos, experiências, pessoas, como você, que a deixam sempre mais bela, saudades....

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  2. Que lindo, Su. Obrigada por fazer parte da minha colcha.
    Feliz 2013 e sempre.
    Binha

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  3. Su, É muito bom ter vc fazendo parte do meu meu patchwork!! Feliz Nova Era!

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  4. Sú, Você tá cada momento melhor. Eleuza

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  5. Su, que lindo texto e a imagem ficou perfeita também....bjos

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  6. Su costure minha admiração e amor por ti na colcha de retalhos da sua vida. Você é verdadeira,emocionante e muito linda!!! Felicidades! Maria Cláudia

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  7. Obrigada amiga, por escrever tão lindo e descrever com tamanha sensibilidade nossos sentimentos...nosso desejo de criar um mundo melhor,costurando nossas emoções com a linha do afeto! Lindo texto, linda você! Abreijos, Márcia

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  8. Su, li e (re)li esta reflexão que vc escreveu no formato de um texto, em que mergulhamos nas nossas experiências no qual vamos costurando e agregando novos com os antigos desejos, fazendo e refazendo, misturando, descartando, bordando, tingindo, e descobrindo quão rica e exuberante são nossas vivências, quando após um longo aprendizado tecendo fio-a-fio, aproveitamos tudo que nos ocorreu, e como observamos e encaixamos como num grande mosaico, cada um destes acontecimentos.
    É incrível como tenho aprendido com vc a costurar cada um destes acontecimentos,( os mais antigos e os mais novos) de forma que a "Colcha da Vida" atual, esteja bem harmoniosa resistindo de forma tranquila ás intepéries e as temperaturas extremas que a vida nos trás abruptamente.
    Texto maginificamente escrito, leitura fácil e profundas reflexões!Bjos
    Aidil Andrade

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  9. Belo, bela ,beleza, tudo nos fios do amor constroem a tua natureza. Sú,Suzana , sutileza.A tua inspiração denota a tua gentileza!!
    Permaneças aberta para tão lindas reflexôes !! Muito grata!

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