domingo, 9 de setembro de 2012

Poemas de Amor Bem Vivido







Imagem - Lauri Blank



A REDE


Uma noite, agosto,
em rede tecida pela lua,
reencontrei você.
Meu olhar  fez-se lunar
que lhe redescobria ,
enquanto seus beijos delicados
percorriam meu corpo,
explorando o campo,
seu  mapa,
que em mim se desenhava.

Há muito lhe conhecia,
e em mim já sonhava
um tempo esquecido,
em nós , adormecido.

O que acontece
entre estrelas e mares,
quando o universo inteiro responde
a um pedido dirigido ao céu,
vindo de um passado?
O que acontece com o céu,
quando uma pergunta
encontra ,num ato, a resposta
e a resposta se faz poema?

Pois enquanto você estendia
sua rede, tão suavemente,
capturando-me como borboleta,
a vida resgatava um momento
longínquo de um passado
 e, entrelaçando-nos, o refazia.

E enquanto eu passeava
meus dedos em sua pele macia,
amenizando  e intensificando,
a sede de lhe ver real,
O tempo, satisfeito, sorria.
(Éramos nós  nos reencontrando,
e a história recompondo,
o que nos devia).

Naquela noite.
em rede,
fui sua.
sua suave
ave sob a lua.

Não  longe, o mar bramia,
agitava-se,
enquanto a rede
ia  entrelaçando
em nossos pés,
o presente vivido,
um futuro sonhado
e as estrelas que ali caiam,
mensageiras do passado,
vinham
     e viam.  


Susana Meirelles


                                                                               






Imagem - Lauri Blank


FARÓIS


Meus olhos ali viviam.
Viam teus olhos amarelos
como dois faróis de luz clara, sinalizando tudo.
Lágrimas transcendiam e os inundavam.
Não, não era  pela dor da perda,
mas pela emoção do encontro.
Estar no mundo sem teus faróis,
é ser órfão de pai e mãe
em primeiro dia de aula:
ou jogo pedra na vidraça ou me conformo.
Conformo-me à beleza do mundo,
tal como a vejo
sem teus olhos.

São meus faróis de luz amarela,
e eu à deriva, barco.
Embarco nesse olhar para ir além dele,
perceber que por trás dele há outra luz
tal como a minha.
E ainda que precise dos seus olhos por empréstimo,
é sempre para dentro de mim
que os sinais se confirmam.

Vai! Sinaliza, ó farol,
mar adentro,
mar avante,
adiante.
Alcança algo imenso desse mar.
Misterioso, caudaloso,
silencioso mar,
onde me encontro.
Amando-te em ti
e afastando-te de mim.
Amando-me em ti
e afastando-me de mim.
Amando-te em mim
e Afastando-me de ti


Susana Meirelles



                                                          Imagem - Lauri Blank


ENTRELACES

Colecionei toda poesia,
guardando-a para você,

entrelaçando palavras
como com as flores

se faz.
Poesia em fios,
São entrelaces,
Como dos pães , as cestas
Como da cama, as mantas
Como da cabeceira, o relógio
Registrando o tempo nosso.
Nosso tempo em  varandas

e em salas de estar,
meus olhos, salas de espera
e todas aquelas janelas,
 onde lhe adivinho chegar.
Sua presença basta
para que se inscreva  

poesia, em mim,
Pois, se você  chega ,
antes, me chegam seus passos,
e a sua respiração apressada
é entrelaçada à minha.
Conheço, em mim, seus rastros,
quando sua falta se desfaz,
e  meu coração aponta
caminhos e tanto me diz.
Tecelagem
de fios.
de mãos
e poéticos tremores
(são quase temores),
que se entrelaçam,
nesse amor imenso,
que é meu
que é seu

que nos enlaça,
no poema de nosso laço.


                                                                                                             Susana Meirelles


Um comentário:

  1. Como é bom ter uma amiga escritora e poetisa. Que lindo,Su! Fiquei emocionada!! bjos

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