O DEDO VERDE OU A ARTE DE DESCOBRIR
O MELHOR DE CADA UM
Tistu é o personagem de um lindo conto de Maurice Druon: O menino do dedo verde. Ele possuía o dom de fazer brotar flores onde tocasse o
seu polegar, fazendo desabrochar as sementes que existiam por toda a parte.
Embelezando o que era feio e triste, trazendo alegria e evitando guerras, Tistu
viveu o seu dom até conhecer a morte do seu amigo e professor Bigode e construir com seu
polegar , uma linda escada florida que o conduziu ao céu.
Os jardins de Tistu
eram desordenados. pois as sementes que brotam da terra são trazidas pelo
vento que sempre as deixa livres. Nada desabrocha sem liberdade e creio que é a
alegria da liberdade o que torna belos todos
os jardins: os de Tistu e os nossos. Os jardins podados não me comovem. São
jardins tristes. A liberdade embeleza todos os jardins, inclusive aqueles onde cultivamos
nossos relacionamentos.
Hoje, no meu
jardim de todos os dias,eu redescobri o cheiro da grama molhada depois da
chuva. As folhas secas de outono , abrigando poças d´agua me pareciam lagos ,
onde quase via a minha minha imagem e a luz que vinha do céu. Vi a variedade de
espécies: amendoeiras, palmeiras, algarobas , eucapliptos compartilhavam o
mesmo chão. Flores pequeninas amarelas, azuis e brancas enfeitavam o caminho e, numa desorganizada e viva alegria. comemoravam a mistura, o respeito ao outro. E como se eu notasse pela primeira vez o verde dentro do verde, o verde além
do verde, o verde no meu polegar , eu descobria o novo em mim.
Como já vivi
jardins , já vivi pessoas. Gosto de pessoas como quem cultiva flores. As
pessoas sempre exerceram sobre mim um grande fascínio: o da descoberta de suas
sementes e do lugar delas em minha vida.
Como o
menino do dedo verde sempre acreditei que podemos ajudar as pessoas a
desenvolverem o melhor de si mesmas com liberdade. Creio que um dos maiores
problemas nos nossos relacionamentos é o não reconhecimento do lugar do outro
em nossas vidas e a tentativa de adaptar pessoas a se enquadrarem em nossas
expectativas. Já ouvi muito sofrimento por pessoas que desejam um marido
naquele que quer apenas ser um amor passageiro. Ou por esperar uma mãe em quem
deseja ser uma mulher. Ou um filho em quem é marido. Ou um namorado no grande
amigo. Quanto sofrimento quando não reconhecemos as sementes que o outro traz e
o melhor que podem nos dar.
É uma arte
bela e desafiante: descobrir o lugar de cada um em nossa vida.,esperar o melhor
que cada um poderá oferecer e não criar expectativas irreais, podando as pessoas
para adapta-las ao que desejamos.
Quanta
liberdade vivemos quando aceitamos as pessoas no que são e com elas convivemos
com alegria, compartilhando espaços e colorindo jardins. Dessa forma, como Tistu, evitamos guerras, dores e enfeitamos com o colorido o que é escuro e triste ou
mesmo subimos ao ceu experimentando a leveza de ir além de limites.
AS vezes pensamos que é mais fácil usar a tesoura para podar, adaptar, fazer caber o outro
num padrão ou ajustar as pessoas a uma expectativa, como se não acreditássemos
que o vento pode trazer novas sementes e cores novas para a vida, renovando-a
sempre.
Que nosso dedo verde, ajude a embelezar o mundo, lembrando que o vento que carrega as sementes e as espalha desordenadas, nos ajuda a descobrir uma beleza muito maior, quer é a de ser livre e descobrir o lugar destinado a cada um em nosso coração. E creia : é sempre muito melhor e mais colorido do que as nossas rígidas expectativas.