Arte- Jonty Hurwitz
UMA (P)ARTE
O passado é tempo parado
Adormecido nos calendários
Mas revivido
em tintas de fogo
quando uma palavra
o acende e chama.
Não sei abandoná-lo
no lugar de letras mortas.
Devo-lhe os pés, passos e braços
os abraços apertados
os laços já apartados..
Devo-lhe lembranças, culminâncias,
felicidades
e aquela doce espera
de que se cumpra algo
entre desejo e destino.
É ele a matéria prima.
Devo-lhe toda alegria
Toda dor
e todo desatino.
Todos os dias o passado
bate solene à minha porta
em lembranças, fragmentos,
despedaçado,
em partes, pedaços.
Em partes decompostas
Como postas.
E dele liberto-me postando-me inteiro,
nas esquinas do desejo,
da fé, do medo.
Sou um lobo à espreita
De sangue novo, vermelho vivo.
Conservo afiados os dentes, as garras
a ânsia de carne nova
nova vida
Devoro a liberdade
de criar-me, de reinventar-me
de refazer, de ignorar, de duvidar..
E faço-me
dia a dia, passo a passo,
a cada passo,
em passos precisos.
(dos meus pés preciso).
Todo rascunho lá
Parece ter sido desenhado, escrito
E agora , cubro-os com tintas
Das aventuras, do inesperado
e de tanto sonho e sentimento..
Fazendo sentido.
A tudo reescrevo, repinto
São essas as tintas:
Fogo, sangue, ar e vida.
Em um estranho quadro habito.
Dele sou parte.
só um pedaço...
Viver é tão belo!
Viver é arte.
Susana Meirelles
Resposta a desafio poético em imagens sugeridas por Tania Contreiras.