domingo, 21 de julho de 2013

Poesia em Imagens V- Soneto de uma Passagem

                                                                            

Respostas ao Desafio poético de Tânia Contreiras     
 


SONETO DE UMA PASSAGEM

Cheguei  no meio do caminho
No passado,  deixei o abrigo, o ninho
Até aqui carreguei  tudo o que acreditava
E de tão pesado, junto comigo, desaba.

Cheguei no meio da vida
Ouço a voz que me chama
o futuro convoca,  clama
E  a  vida não vivida convida.

Cheguei no meio do tempo
Mergulho no agora sem fim
Sombra e luz, em paz, convivem em mim.

Agora trago nos passos, apenas a passagem
Nos olhos, a  paisagem e nas mãos o amor à vida
Que me transporta, guarda e abriga.



Susana Meirelles









ENCONTRO MARCADO


O encontro das sombras
do que não quisemos ver
Com nossos desejos, 
brancos, nuvens
Surpreendeu-nos nesta manhã,
Em tempestade.

Agora, aqui, nus,
encontramo-nos sós,
Apenas enlaçados 
em nossos medos.

Assisto e aceito a sua ida
Contemplando quão árido é o chão
Que um dia acreditamos fazer florir
Nus, estávamos esquecidos
que a Primavera, com o inverno,
Um dia resgata a sua divida.

Quisera segurar um pouco mais
Sua presença luminosa
Meu amparo, meu amado abrigo
Seu corpo, seus ombros fortes 
E aquela paixão sem medidas
Que vejo desvanecer-se
Em sua boca, em suas mãos.

Mas em meio à tempestade
É sua a voz que me diz,
que agora o encontro marcado
é comigo.


Susana Meirelles




EX-ISTO


Porque falo
Calo
Já que bailo
Caio
Desmancho-me , sim
Me mancham
Mas se existo,
não desisto.


 Susana Meirelles

Poesia em Imagens IV - Pela Pele



Respostas a Desafios Poéticos de Tânia Contreiras

PELA PELE



Deixe estar
Que um dia,
Em mim há de brotar
Poesia pela pele
Pelos pelos
Pelos poros
Só para lhe ofertar.
E palavras suaves
Intensas , inteiras
Sobre mim
Sobre você
Sobretudo
Sobrevoarão.
Ah! Quando eu for
Inteiro um poema,
O amor afogado
Em coloridas asas
Se revelará.
E transformando
Dor em poesia
Pelos poros
Pelos pelos
Pela pele
O nosso amor,
Sobreviverá

Susana Meirelles





SÓ E CINZA

Se um dia eu for só cinza
Se um dia eu for só
Se um dia eu for
Se um dia
Um dia

Lembra-me
Lembra-me do azul
Lembra-me do azul daquela  estrela

Daquela estrela
Estrela que nesta noite
Nesta noite ao lado teu
Ao lado teu descobri
Descobri cintilando
Cintilando em  mim.

Se um dia eu for só e cinza
Se um dia eu for só
Se um dia eu for,
Lembra-me
de mim.


Susana Meirelles




DUAS FACES


Botão de rosa
Flor da ausência
Registro sinistro,
Presença sem face
Da dor da sua falta
em mim.

Botão de rosa
Flor da presença
Fio de vida
Que desabrochará
na ausência da sua face
na dor da sua falta
em mim


Susana Meirelles






Ramos

Nas veias,
A história é seiva
Pulsa
Pulsa em  dor
Pulsa em amor

Nas linhas
o destino é Ramo
enrama  a dor
enrama o amor

Nos olhos, desejo é luz
Vida é Flor
Em pétalas de amor e dor.


 Susana Meirelles


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Poesia em Imagens - O Portal

Imagem: Sarolta Bán


Em torno do silêncio construí minha morada
Lá, escuto as palavras dos outros
 Só e mudo, vivo
Guardando portais.
De dia atendo àqueles que me procuram,
E me confiam as suas chaves
Em silêncio ,mergulho no infinito
que há em cada um.
Ouço suas palavras: lendas, viagens, conquistas
mitos pessoais,  histórias apaixonadas
contos de fadas,  
e alimento-me da beleza e das ilusões 
com que os outros escrevem suas fábulas.
Ah! quanta paz!
há no silêncio onde fiz minha morada.
De lá, capto olhares, a tudo fotografo:
Lágrimas, gargalhadas,
Gestos, lapsos, mãos inquietas.
inveja, ciúme,
(Vejo as sombras).
A tudo escuto,
sobretudo, palavras.
À noite assisto as palavras sonolentas
são  como argila, as modelo.
Arrumo, desarrumo, desmonto, refaço,
divirto-me com elas,
aproveitando todo o sentimento
com que estão imantadas.
Faço poemas com palavras adormecidas,
olho para elas, me admiro.
São como filhas, orgulho-me delas,
(e de mim, por criá-las tão belas).
 Quando adormeço,
 faço-me ponte, passagem
asa, viagem
(Palavras são imagens).
Suas histórias vivo,
choro, comemoro,
com o sonho faço acordo
e plácido, acordo.
Tudo isso no silêncio onde fiz a  minha morada.
E porque,  em silêncio, guardo o portal,
segredos, tão sagrados, falam
na mesma medida em que me calo.
E a chave, meu enigma, pesa
na mesma medida do tempo.
Só quando de amor me embriago,
palavras me atravessam,
tornam-se chaves.
E, então, eu falo...como falo!
 com minha voz, eu sou,
e posso escutar
toda a verdade contida,
no silêncio onde fiz a minha morada. 
Não hesito: Vou
giro a chave.
Um pouco morro, renasço.
Vou para o outro lado.
O portal  passo.




Susana Meirelles
(Resposta a Desafio poético Tânia Contreiras)











terça-feira, 9 de julho de 2013

Bem-te- vi






Bem - te - vi

a José Leal , meu pai

Quando a ternura ganha força e coragem
Invade, com suas asas, espaços
Entra por todas as janelas na manhã ensolarada,
que pede cuidados
para plantas, pássaros
e meu coração.
Vontade de descansar da vida
em alguma rede branca na varanda antiga,
onde guardo o passado
revivido.
Meu pai me chamando no jardim
Meu pai me convidando,
a cuidar de suas flores no jardim.
Hoje, eu o convido,
e sei que  aqui ele está
nessa presença intensificada
pela falta.
Sim , é ele
Reconheço pelo ar de ternura
que sempre anunciava a sua vinda,
pela espera doce
e a certeza da presença.
Sei que é ele que encontro
Nas asas daquele bem te vi
que olha por mim
exclamando palavras suas:
-"Bem te vi
Bem te vejo
Te verei bem"
São  as palavras delicadas,
como aquelas asas
e como as cores que escolho
para esses sentimentos.
Para falar dele,
nunca digo tudo,
silencio o coração
que, cansado,
busca o  conforto que os pássaros
podem oferecer.
Embarco nessas asas
sobrevoando o passado.
Quanto ao futuro,
trago de lá as manhãs eternizadas,
onde ele se encontra,
e meu coração
canta para ele ouvir:
"-Tanto bem te quis
Todo o bem, por ti
quero
Tanto quero ver-te
Bem.
Meu pai ,
meu bem-te-vi,
Bem 
te
 vivi".


Susana Meirelles