Atiradas ao vento,
Recolhidas e silenciosas
Nos jardins
Coloridos de primavera,
Agradeço.
Pelos casulos abertos
Cascas esquecidas
Prenúncio de belezas,
Como amêndoas,
Como nozes,
Seus sabores,
Suas delicias.
Pelos papéis amassados,
Guardando rabiscos
De poemas noturnos e belos.
Do lixo,
Desprezados projetos,
Desenhos de nova vida,
Rasgados,
Jamais lembrados
Pelas costuras
Em alinhavos,
Pelos ensaios desafinados.
As contusões.
Em saltos,
Em quase Voos
Contundentes ensaios.
Pelo feio,
Pelo malfeito e imperfeito
Por toda tentativa,
Agradeço
Pelo testemunho diário
De dores
A caixa de lenços que se entrega
e vazia, se finda
Pelas lágrimas que ajudo a verter
Enxugando-as.
Sou grata,
Pois benditas são as veias
Condutoras
Deste caudaloso fluir
Como é o sangue,
De vida
São águas em dores vertidas
Até escondidas
Silenciosas
Ou em catarse que limpa,
Tornando límpidos
O negro
Pesadas nuvens
A sombra
O avesso
Pelas lutas,
Pelos lutos,
Meus e daqueles
A quem assisto.
Lutos e lutas
Que antecedem
anunciam
e preparam
Toda beleza.
À vida,
Agradeço.
Susana Meirelles