MEUS PÁSSAROS
Quando a noite sobre mim
descansa,
da janela eu os chamo
e aguardo.
Em asas de papel eu vou
até a ponta branca da lua,
e sentada, contemplo, paciente, 
um silencioso céu 
sem estrelas.
Pouco a pouco eles chegam
 Um a um, ou em bandos.
São meus laços, são  meus pássaros,
aqueles que ao longo da minha
vida,
se fizeram mortos.
Os esquecidos, laços rompidos, 
em mim marcados,
jamais abandonados.
Com eles permaneço
Toda a noite.
E rimos juntos
do engano dos homens
com seu tempo de memória 
e de esquecimento.
Rimos juntos
do engano que há, 
pois morte tantas vezes, se faz
vida.
 E rimos juntos, 
pois vida, 
por tantas vezes, morte se faz.
São meus laços, meus pássaros  
tempo, lendas, mitos
tudo o que acredito,
minha história, toda memória.
Sem dor, a tudo  comtemplo. 
Tudo de mim compreendo,
olhando -os tão Livres, 
chuva de laços, de pássaros,
para mim olhando, 
sorrindo. 
Quando amanhece
e o sol vem chegando,
sentada na ponta da lua
eu os vejo partir.
Um a um ou em bandos.
Sim, as despedidas se refazem,
mas os laços, não, 
não se desfazem.
Meus laços, meus pássaros
 nunca se foram. 
Estão encantados,
 no ponto luminosos e terno ,
do eterno
que por puro amor, 
em nosso encontro noturno, 
torna-se nosso segredo
tão sagrado,
bem guardado.
Em minha doce brincadeira:
dobraduras, origami,
asas de papel.
Susana Meirelles
